terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Em Joinville, cidade da chuva...

Hoje foi veiculada por uma emissora local a notícia de que o Juiz Sérgio Luiz Junkes autorizou o pedido de adoção formulado por um casal homossexual aqui em Joinville. As duas mães agora constituíram sua família completa ao passarem seus sobrenomes para uma garotinha de 3 anos adotada há um bom tempo.

Que vitória para a Justiça nesses tempos de administração nojenta do poder público. Que exemplo para a escória asquerosa que perverte as leis da Constituição. Algo tão simples: o direito de se adotar uma criança e construir uma família. Parabéns para o Juiz Sérgio, que soube aliar a sobriedade jurídica com o caráter humano e mostrou como a Justiça ainda não abandonou este país.
Mas um parabéns ainda maior para as duas mães da criança, pois além de terem seu triunfo consolidado mostraram que de fato o amor vence tudo. Sejam as barreiras da sociedade, as limitações da Lei ou a ignorância das pessoas.
Elas acreditaram na lei. Acreditaram na justiça. Acreditaram no que é certo. Acreditaram umas nas outras. Quanto mais improvável a vitória, mais memorável o sucesso.

Muita gente vai jogar praga na família delas e no Juiz. Vão reclamar, como sempre reclamam. Que reclamem, moam-se de inveja por serem derrotados e fracos, incapazes de lutar e vencer como essas duas mães vitoriosas, ou incapazes de entender e discernir, como o juiz se mostrou capaz. Fiquem vermelhos de raiva e desgosto, invoquem a fúria de Deus ou do diabo, nada vai acontecer. O amor venceu, e ele é invulnerável. O amor de Deus não está na boca de quem é arrogante e fala "Deus não quer assim", como se fosse dono da verdade. O amor, assim como a jsutiça, mostrou-se no seio de uma família de três mulheres.
Enquanto houver quem acredite no que une a família, haverá razão para a Justiça ser praticada.

Não sou joinvillense, mas hoje tenho orgulho de dizer que moro nessa cidade, dado o exemplo. Que esse respeito pelos direitos das pessoas seja o primeiro de muitos. Precisamos de mais juízes e mais guerreiras como os que vi hoje pela tela da tv.

domingo, 1 de novembro de 2009

As paredes da Vila

Era uma vez uma janela. O menino não comia arroz, então o pai dele nunca lhe deu uma bicicleta.
Moral da história: Bem vindos à vida em sociedade urbanizável moderna!!!!

Eu me pergunto... No dia em que o primeiro hominídeo fez uma cerquinha com pedras e disse "Esse espaço é meu", como viveríamos hoje se os outros encachassassem ele de bolacha e ninguém tivesse seguido aquela idéia? Desde um pedaço da crosta terrestre até cromossomos, temos a idéia que as coisas tem um dono e que esse dono, na maior parte das vezes, somos nós.

Somos tão donos de tudo que pilhamos e destruímos, desde florestas até cidades inimigas. E o que é "nosso" começa com tesouros, armas, mulheres e tudo o que couber entre nossos braços. Até que, um dia, os braços não são suficientes pra medir nossas posses.
Talvez seja natural do bicho homem, já que até aqui na Ameríndia (sic-k) os primeiros Brasileiros tinham uma idéia de posse - o que um pode mexer e o outro não pode.

Claro que isso está ligado ao egoísmo, essa pérola negra da consciência humana. Ah, eu adoro o egoísmo, pena que joguem tanta pedra nele! Sem o egoísmo não seríamos muito do que somos hoje, tanto para o bem quanto para o mal. Na verdade, essa mania taxativa que temos de definir o que presta e o que não presta até no plano dos sentimentos nos deixa bem limitados e cafonas.

Agora, fazendo uma ponte com o subjetivismo, chego a Piracity. Pirabeiraba, essa vila aparentemente simpática no norte do município de Joinville. Pirabeiraba, esse bairro com ares de femme fatale... O egoísmo torna forte a nossa vida em sociedade, em Joinville não é diferente, com um diferencial: o egoísmo por aqui tem uma licença histórica que é quase poética.

O que noto, contudo, é que os traumas do pós-guerra entranhados nos cromossomos dos colonos daqui é diferente do egoísmo que vi em outras cidades. Como já falei antes (e como vou retormar sempre que puder) a vilania dos ladrões de botijão de gás e quadrilhas de risca-faca ainda são o top hot villainy de Joinville e região (ainda mais na região de Pirabeiraba).
Isso, ao meu ver de forasteiro, é inocência. INOCÊNCIA (Pratz batendo na mesa) não é tolice! Essas questões de pureza volta e meia me pegam na contradição, mas é justamente por causa da pureza que acho que amo Joinville. Não me importa a umidade de quase 99%, o mofo que cresce até no cabelo, as chuvas de monsão distribuídas ao longo do ano, o horário de ônibus horrível... Esta terra tem uma característica que não vi em nenhum outro lugar que morei.

Não sei se é a paz, se é o marasmo, se é o ar de grande-coisa que se dá ao que é pequeno... Tem algo nessa cidade que tantos acham desinteressante que a tornou única para mim. Pode ser a mistura de rústico/campestre(Piracity) com a infância metropolitana de Joinville(centro), mas tem algo que torna a terra, e por extensão seus nativos, especiais.
Talvez seja a capacidade de se espantar com uma folha policial que, ao longo de um mês, mal chega a ser comparável com a de uma metrópole. Talvez seja o afã das festas alemãs cheias de chop e sotaques falsete. Talvez seja a avareza de uns e a humildade sincera de outros... É o encanto deste lugar, um encanto que, se não estivesse aqui, entre o Itinga e a Dona Francisca, tornaria este lugar apenas "mais um".

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Retomando a brida

POIS agora... O blog ressurgiu dos bytes equecidos, assim como meus pensamentos sobre ele. Faz tempo que não reflito sobre a proposta original do blog (que eu queria nunca ter escrito), mas volto a refletir sobre ela depois de um período tão longo sem escrever.
E não foi só o blog que mudou depois de um período de esquecimento. Eu também passei por algo que talvez um dia eu chame de "noite escura da alma" <--Pesquisem!

Em tempo, embora não tenha refletido sobre a proposta do blog, fiz algo muito melhor, sem saber: vivi a proposta. No tempo em que parei de escrever para o SimpliCidade, tive oportunidades ótimas de passar por Sampa e meu vínculo com Piracity (Pirabeiraba, o Condado em Santa Catarina!) ficou mais forte...
Como pagão, acredito que todos temos um vínculo profundo com a terra natal. Mas essa terra natal eu deixei para trás muitos anos atrás, quando saí de SP com uns 4 anos de idade. Minha terra natal virou o Brasil, pois passei por várias cidades desde a primeira mudança, e aprendi a gostar de todas, a ver que o lado bom de cada uma era mais forte do que o lado ruim (exceto Maceió, que é um caso mais complicado). Enfim, amei cada lugar por onde passei, mas nunca me identifiquei com nenhum deles como me identifico com essa vila pós-colonização-do-Fritz-e-da-Frida. Adoro Joinville, mas adoro ainda mais o seu Distrito de Pirabeiraba.

Só que meu coração é de São Paulo. É coisa de berço e sepultura. Como esquecer o primeiro ninho? E adoro amar o mundo de concreto que é aquela eucomenopólis e ainda assim se sentir tão em casa na paisagem bucólica de Pirabeiraba, um asilo para as almas notívagas que vêm de longe, além das colinas! Nunca vi cada uma tão distante da outra nos pratos da balança, mas amo as duas com igual intensidade... Sou uma criatura urbana, mas também sou do interiorrr. Uma é o mundo entre paredes de concreto, mas a outra é um lugar de paz, um porto seguro.

Me pergunto quantas pessoas pensam assim. Quantas pessoas viveram isso, quantas pessoas tiveram essa oportunidade que eu tanto amaldiçoei no passado. Enfim, é o primeiro dia de ressurreição e a vontade de escrever é maior do que a competência para isso no momento.

Here we go again

Era uma vez um blog neonato que pereceu ante o senso crítico extremamente perfeccionista de um cara que gosta(va) de escrever... Era um blog singelo e sem pretensões, um pequeno rebento digital neste mundo virtual sem fronteiras... E findou-se aqui, há mais de ano, soterrado pelas areias do tempo que escorrem da ampulheta...

Mas esperem! Milagre! Ressurreição! Quem desencavou este blog? Quem foi o arqueologista que removeu as areias do tempo? Quem foi o taumaturgo que o fez ressurgir? Segredo!
Respire mais uma vez SimpliCidade, sinta os bytes fluindo pelo seu layout mais uma vez! Alguém soprou vida no seu design cansado, alguém inspirou posts na sua home esquecida! Quem? ainda é segredo...

domingo, 20 de janeiro de 2008

"Somos resultado do que fazemos todo dia", como dizia o filósofo.
Porque o pessoal mais "antigo", apegado à tradição, tem medo de ver sua cultura perder-se nas gerações futuras? deixar de lado a tradição é algo tão horrível assim? Por que é mais comum que a tradição seja algo mais forte nas cidades pequenas?

Não quero me aprofundar em áreas como sociologia, por exemplo, enquanto tento explicar isso, mas quantos de nós já pararam para pensar- o que é cultura? Você saberia responder? Acho que é difícil encontrar alguém que tenha essa resposta na ponta língua. Para resumir, costuma-se classificar cultura como o conjunto de idéias e crenças passadas através das gerações, ao longo da história, que ajudam o homem a interagir com o meio ambiente e facilitar sua vida.
Se entendermos esse conceito, também entendemos que é pode ser bem desagradável perder a cultura, se ela é tudo isso que dizem... Mas existem diferentes culturas - repostas diferentes ao meio ambiente geraram idéias e crenças diferentes entre os povos, e ainda geram. A cultura é hereditária, passada para nós de algum modo, seja por nossos pais, nossos professores, a TV na nossa sala ou os jornais de domingo.
Antes, muitas idéias eram incontestáveis - umas por imposição, outras porque não havia modos de se entender a verdade. Exemplo - Não sabíamos, nos tempos antigos, o que provocava a chuva, então era algo divino e pronto. Não havia como discutir, não sabíamos o que poderia fazer chover senão alguma divindade. Mas hoje sabemos que a água evapora, condensa-se e volta para a terra em forma de chuva.

Contudo, quem descobriu o ciclo da água dificilmente morava no campo. Quem publicou teses ou divulgou estudos sobre a chuva não morava em vilas sem recurso, onde a maioria do povo normalmente tinha um grau de instrução menor. Os grandes cientistas, sábios e filósofos da antiguidade moravam em centros cívicos, e de lá seu conhecimento espalhava-se, sendo que nem sempre chegava nas cidadezinhas afastadas. Com a cultura ocorre algo parecido.
Cultura e tradição não são a mesma coisa. Tradições são hábitos de um povo ou grupo, são uma parte da cultura, um conjunto maior. Tradições são mais difíceis de se perder quando se mora longe das cidades grandes, pois nelas é que ocorreram avanços científicos que foram desmistificando várias idéias antigas, lentamente substituindo idéias tradicionais por idéias novas. Desse modo, a cultura em um meio urbano mais desenvolvido sofre mais transformações do que a cultura de uma cidade pequena, distante de novidades científicas.
Hoje isso ainda é muito evidente. Algumas tradições que existem em cidades pequenas também já existiram em cidades grandes, em casos em que os colonizadores foram os mesmos. Mas o conhecimento sempre fluiu muito mais em cidades grandes, e nelas a cultura foi tornando-se mais suscetível às novidades científicas.

Além desse fator, as cidades grandes recebem migrantes, que trazem sua própria cultura. O choque de culturas diferentes vai formando uma cultura homogênea, de modo que na cidade grande a diferença entre culturas fica mais vaga, evidente através das tradições eventualmente mantidas.
Nas cidadezinhas, por outro lado, é bem menos comum culturas de fora misturarem-se à cultura do local. Aqui em Pirabeiraba, por exemplo, as culturas alemã e italiana sempre foram mais evidentes. Com a vinda de grandes fábricas para a região, gente de outros estados veio para cá, e trouxeram sua contribuição para formar a cultura local, uma mistura das culturas de quem vive aqui. Mas como essa mistura é bem mais lenta do que a que ocorre na cidade grande (devido às poucas vezes em que novas culturas vêm para cá), as culturas alemã e italiana ainda são mas evidentes.

Mas apesar das diferenças culturais serem menos pronunciadas ou notadas na cidade grande, ainda assim há grupos de pessoas que lutam contra isso, movimentos infelizmente comuns, que pregam ódio racial, existência de culturas dominantes, e besteiras do tipo, que discriminam algumas culturas e enaltecem outras. Isso não quer dizer que nas cidades pequenas todos vivam em harmonia e respeitosamente. O preconceito é um mal que existe em praticamente todos os lugares, e nas cidades menores não seria diferente. Mas enquanto nas cidades ocorrem grupos ou gangues contra ou à favor de certas culturas, nas cidades pequenas esse preconceito cultural está mais integrado às pessoas do dia-a-dia, é bem mais raro achar grupos nazistas ou coisas do tipo em cidades menores.
Apesar de não haverem grupos que se põe contra uma ou mais culturas, a discriminação está presente, mas não tão pronunciada, na forma de gangues, por exemplo, como ocorre em várias cidades grandes.

Analisando então... A cultura é algo vital para o ser humano, permite uma interação melhor com o meio-ambiente. Ainda que hoje isso seja mais automático do que pensado, perder a cultura seria perder parte da vida, o que justifica as tentativas de se manter tradições e costumes vivos... Nas cidades grandes, devido ao número variado de culturas, ocorre uma integração cultural (além da interferência da cultura global, da nossa "amada" sociedade de consumo), de modo que as diferenças entre as culturas tem muito menos destaque em uma cidade grande do que em uma cidade pequena. Nestas, por sua vez, a variedade de culturas costuma ser menor, quando não estão presentes apenas as culturas dos povos colonizadores. Porque nas cidadezinhas as diferenças culturais são mais evidentes (evidenciadas de vários modos, com celebrando tradiçoes que tornam alguma cultura única), há a impressão de que nas cidades grandes a cultura não é um assunto de destaque, e que os cidadãos não valorizam suas culturas, não dão atenção às suas tradições. O que na maioria das vezes não ocorre. Só porque a cultura e a tradição estão menos evidentes em uma cidade grande, não quer dizer que não estejam presentes.
Mas apesar disso, não é todo negro que celebra a cultura africana, não é todo índio que celebra a cultura ameríndia, não é todo descendente de colozinadores que celebra a cultura européia... Não se pode esperar que alguém siga uma cultura por causa de seus antepassados - mudam os tempos, mudam as idéias, e mudamos nós. Existem cidades grandes onde a cultura é um assunto bem mais presente no cotidiano do que em algumas cidades pequenas, existem cidades colonizadas por certa etnia que hoje não apresentam quase nenhum vínculo com as tradições de seus antepassados... Cultura é algo muito vago para se falar quando comparando cidades pequenas com cidades grandes, o que ocorre em uma pode ocorrer na outra. Mas é importante falar disso e pensar nisso, para que o pessoal da cidade grande lembre que não vive sem sua cultura (ainda que seja uma "cultura urbana", sem maiores disitinções, mistura de várias culturas). Também é bom lembrar que o pessoal das cidades pequenas não dá mais valor às suas tradições e culturas do que quem mora em cidades grandes, são apenas pontos de vista diferentes, no final - na cidade pequena, as diferenças culturais costumam ser mais evidentes, enquanto na cidade grande elas perdem luz quando comparadas com outros assuntos - tipo "como sobreviver na cidade grande".

Eu tinha dito que não queria entrar muito em áreas como sociologia... bem, agora é bom eu retirar o que eu disse... Se você leu cada linha até chegar à essa, seu estado deve ser um dos três abaixo:
1 - Se você leu tudo e entendeu pelo menos a conclusão, de verdade, vou precisar que voce me explique o que eu quis dizer...

2 - Se você leu tudo e entendeu algumas coisas, mas não muito, não se preocupe, eu também penso assim =)

3 - Se você leu tudo e não entendeu nada, não se preocupre, você é normal. (Eu já disse que pessoas normais são estranhas?)

*** cFTla

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Outro post, enfim! O blog sobreviveu à sua primeira "noite escura da alma"!

Se bem me lembro, no último post eu falava sobre as defesas das cidades pequenas contra o que vêm de fora. No caso de Pirabeiraba, por exemplo, o que ilustra essa idéia é o fato do pessoal daqui sentir-se desconfiado de quem vem de fora ou de quem não é de tradição alemã ou italiana (vide o caso do velhinho e da fotógrafa carioca, citado anteriormente...).
A raiz por traz desse aparente princípio de xenofobia (não sou freudiano ¬¬) seria o medo de ter a cultura/tradição desfeita pela cultura de outros?

Nesse ponto é para se perguntar - existe uma cultura urbana, totalmente diferente da cultura de uma cidade pequena e tradicional? Nas cidades grandes, a cultura é uma noção mais aberta e receptiva - Em São Paulo, por exemplo, está acontecendo a comemoração da Imigração Japonesa, e isso é uma celebração de tradições mantidas com orgulho e carinho pelos descendentes.
Aqui em Joinville, a tradição alemã e a tradição italiana são mantidas com esmero, mas os esforços para fazê-lo são bem menos notáveis do que as celebrações da cultura nipônica, no exemplo do parágrafo acima. A questão é - nas cidades pequenas e tradicionais a cultura do povo fica mais enraizada e não precisa ser celebrada para ser mantida? Ou seja, a tradição dos antepassados já está presente no dia-a-dia, sem que tenham que haver comemorações para mostrar que ela ainda existe? E as tradições na cidade grande precisam ser celebradas volta e meia para não serem esquecidas? Não acho que seja assim.

Em Pirabeiraba, achar que o pessoal dos grandes centros urbanos não dá valor à cultura de seus antepassados já é uma idéia formada na cabeça do pessoal mais tradicional. E, claro, a culpa sempre é dos jovens, que "aceitam apenas a cultura da mídia e esquecem suas próprias raízes"... Não sei como estão as coisas nas outras cidadezinhas e lugarejos, mas aqui em Pirabeiraba a coisa não é assim. Os jovens que aqui moram (pedra na gente!) não são ícones da cultura alemã ou italiana. Muitos não falam nenhuma palavra nas línguas de seus ancestrais colonos (exceto hund, que é uma palavra básica). Muitos também não suportam músicas alemãs, outros não agüentam nem músicas italianas das novelas da Globo. Normal, claro, pois cada um é cada um.

Mas os "tradicionais" das cidades pequenas reclamam muito mais de uma fantasiosa falta de cultura na cidade grande do que da perda lenta de cultura nos seus próprios descendentes. Na escola em que eu estudei, o Akon era muito mais famoso do que o Waldviertler Nätche, por exemplo. Ainda que um ou outro saiba falar algumas frases em alemão, isso não é manter a cultura, tal como estão fazendo os nisseis em São Paulo.
A cultura européia que os descendetes de colonos daqui prezam tanto não é mais tão européia assim. Ninguém na Alemanha se veste mais como o pessoal daqui costuma se caracterizar nas festas típicas. É importante dar valor à tradição e manter o olho aberto sobre o que a mídia e os EUA empurram pra gente, mas é muito mais importante manter a mente e os sentidos abertos para todas as influências culturais. Negar uma cultura diferente ou julgar os jovens ou o pessoal da cidade grande como sem-cultura é uma falta muito grave do pessoal tradicional de algumas cidades pequenas.

O bom é que moramos no Brasil, e nada aqui fica intacto, quieto... Tudo está sempre se transformando, mudando, ficando com mais cara de brasileiro. A cultura do alemão se mistura com a do índio, que se misturam com a do português, que se misturam com a do italiano, e assim vai... O pessoal tradicional celebra a tradição alemã, como é o caso daqui, mas vivem a cultura brasileira no seu dia-a-dia...

Mas na verdade é bem difícil caracterizar a cultura brasileira. Até hoje ninguém sabe dizer direito que idéias ou símbolos unem o pessoal todo do Chuí ao Oiapoque... Tem a cachaça, o carnaval e o futebol, e aquela idéia de que brasileiro é piadista, sempre ri de tudo e, claro, dá o famoso jeitinho brasileiro pra se safar de certas situações... mas isso é muito pouco para formar uma identidade brasileira (para não mencionar o fato do pessoal daqui ser totalmente indiferente ao carnaval).
Talvez seja essa a identidade brasileira - as muitas culturas de quem era daqui e de quem veio de fora, juntas, formando algo que nunca vai ter uma cara só, mas que já não se separa mais.
Só que depois desse momento professor de geografia, ficam aquelas perguntas - por que o pessoal mais tradicional, seja de cidadezinhas ou de cidade grande, tem medo de ver a tradição perdida entre as gerações futuras? Por que tem gente de cidade grande que não entende o apego à tradição do pessoal das cidades pequenas, e por que o pessoal dessas cidadezinhas costuma pensar que o pessoal da cidade grande não zela mais por sua herança cultural?

Responderei no próximo post, por que quanto mais tarde ficar, maior fica o risco de eu falar alguma besteira terrível (espero não ter falado nenhuma até agora hehehe).


****** Assunto extra-blog ******
Como o blog virou meu espaço de comunicação (ou pelo menos de desabafo), vou comentar sobre algo que me deixou até meio revoltado esses dias. Não sou muito ligado em futebol, muito menos quando se trata de mídia futebolística... Mas eu soube que o Kaká doou seu último troféu (Melhor do Mundo em 2007, eleito pela FIFA) para seus "guias espirituais" - a bispa Sônia e o marido dela, os cabeças da Igreja Renascer em Cristo.
Não estou atacando a igreja nem a fé dos devotos dela, mas será que o Kaká é tão mentalmente incapacitado para não estar a par dos escândalos em que se envolveram seus adorados gurus? Para quem não sabe ou não lembra, a bispa Sônia e o marido dela, Hernandes (cujo título deve ser pastor, se não me engano), foram presos nos EUA quando tentaram entrar com um porrilhão de dólares não declarados. Não podemos condenar, porque muita gente não faz isso só porque não tem esse dinheiro, mas eles dois deviam ser exemplo... São gente pública, e como se não bastassem, líderes espirituais, o que eles dizem deve ter o máximo de cuidado e atenção, pois a atenção com que os fiéis irão escutar suas palavras também vai ser a máxima.
Se as palavras do casal da Renascer já são um instrumento poderoso para influenciar os fiéis, suas ações são ainda mais. Mas o incrível é que apesar deles estarem presos nos EUA e respondendo a vários processos de estelionato, o número de fiéis da Renascer em Cristo aumentou muito nos últimos dias.
Eles, pregando o que pregam, falando de quem falam, ligados à Cristo, deveriam ser os priemeiros a dar o exemplo de humildade e honestidade... Sonegar todo aquele dinheiro de origem duvidosa é algo bem condenável aos olhos cristãos, creio eu... Vai ver os dois ainda não renasceram em Cristo.
Mas foi o cúmulo aquele jogador pateta doar para eles o troféu que ganhou com o próprio esforço. Claro que o prêmio é dele, mas parece que o mérito não. Desde os tempos em que ele era reserva ele dava duro para mostrar que tinha futuro, e agora que está na mídia, faz uma tolice dessas... Doar o troféu para seus "líderes espirituais" é a prova de que ele se considera incapaz de conquistar qualquer mérito sem ajuda divina. Se ele crê que o sucesso depende não de esforço e persistência, mas de rezar no último volume e pagar o dízimo, então todos aqueles que trabalham duro para ter uma vida melhor estão errados, deviam entregar nas mãos de Deus e esperar o melhor, pois não importa o quanto eles se esforcem, são incapacitados e só conseguirão algo de bom para suas vidas se estiverem sendo guiados espiritualmente.
Desse modo, não sei como o Kaká explicaria a existência de ateus ricos, e nem se ele tem assistido tv do Brasil nos últimos meses para ver seus gurus sonegando a glória que alcançaram com o auxílio de Cristo... mas não acho que eles tenham condições morais para serem guias de qualquer coisa, nem de guias de como sonegar na alfândega, pois nem nisso foram bem-sucedidos...
O céu ajuda a quem se ajuda, já dizia Esopo - e ele era grego e pagão. Se o Kaká acha que é melhor dar o crédito todo ao Céu, então ele devia dizer a FIFA que não foi graças ao talento dele que chegou a ser melhor jogador do mundo, mas sim ao melhor jogador do céu, que deve ter jogado por ele assim que ele começou a seguir seus guias espirituais, exemplos de honestidade e integridade...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Nossa, primeira semana do blog e eu já vou deixar um dia sem escrever sobre o assunto... pior, não vou poder escrever nada, só estas linhas, deixando escrito que não vou escrever nada...
Espero poder escrever sábado, mas como eu não arrebato multidões com meus atuais escritos, não preciso prometer que vou tentar escrever algo amanhã...

boa noite, até o próximo post.